quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Debate ou demagogia?


Hoje, na Folha, a Ilustrada está recheada com a polêmica declaração de Marco Aurélio Garcia, “assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, sobre a programação da TV a cabo.”

Infelizmente não tive acesso ao debate completo onde se originou a declaração, mas vamos ao trecho publicado hoje pelo caderno: “Eles realizam, de forma indolor, um processo de dominação muito eficiente. Despejam todo esse esterco cultural (...) A emergência desse lixo cultural nos deixou numa situação grave.”

Naturalmente, trata-se de um discurso de esquerda. Mas qual a mentira do que foi dito? Todos sabem, mesmo consumindo com prazer parte desse lixo, que a cultura é uma forma de dominação. E veja: eu não estou fora disso. Não sou hipócrita em dizer que não consumo esse tipo cultura ou que não goste, mas também não faço demagogias em defender um gosto só por orgulho. Tenho coragem de assumir o que é ruim.

Segundo publicado na Ilustrada, as respostas à declaração foram:

“É um discurso obsoleto...” – Bruno Barreto, cineasta.

“Não costumo ver seriados americanos, mas ‘House’ é melhor que qualquer série da Globo” – Domingos Oliveira, diretor.

“Estamos diante de um homem que apóia os governos de Fidel [Castro] e [Hugo] Chávez. As declarações são muito parecidas com as ouvidas nesses países”. – Daniel Filho, diretor.

E daí que o discurso é obsoleto? E até que ponto é realmente obsoleto? Será que não se pode discutir mais só por que já nos submetemos de vez à cultura estadunidense?

Tanto faz se algo é melhor que outro, ou se alguém faz melhor. Pergunta: é melhor só na comparação ou realmente é bom do ponto de vista cultural?

Pior é tentar desmerecer a declaração simplesmente por uma posição geopolítica contrária. Isso é típico de quem não tem nada para se dizer e usa das mesmas estratégias de nossos políticos em debates nacionais para fugir do assunto.

Também não cabe dizer que as TVs por assinaturas geram conteúdo nacional, empregos e inovações tecnológicas porque tudo isso, também, é obtido quando se produz conteúdo cultural sério.

Senhores! É fato: lixo é lixo, entretenimento é entretenimento e cultura é cultura. Há relação entre eles? É claro! Mas não podemos ignorar as diferenças.

Enfim, a televisão produz uma infinidade de porcarias independentemente da opinião: se de esquerda ou direita e, até mesmo, de centro.

Leia o caderno e tire sua próprias conclusões.

Fonte:
Folha de São Paulo, 18/02/10. Ilustrada, páginas: E1, E4 e E5.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/inde18022010.htm

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